Por que a pressa? Por que mais esse atropelo? Já não bastava o fato de lideranças do PT terem sido condenadas sem prova?
O presidente do STF, Joaquim Barbosa |
Ficou evidente a manobra eleitoral embutida na decisão do STF, de
antecipar a prisão dos condenados no “Mensalão” nesse 15 de novembro. A
maior parte dos juristas concorda que o normal seria esperar o “trânsito
em julgado”; ou seja, só depois dos embargos infringentes (que devem
ser julgados no fim do primeiro semestre de 2014) é que as prisões
deveriam ser executadas.
Pimenta Neves, assassino confesso, só foi para a prisão depois de
todos os recursos esgotados. Para os líderes petistas, a regra não
valeu.
Por que a pressa? Por que mais esse atropelo? Já não bastava o fato
de lideranças do PT terem sido condenadas sem prova, como afirmou Ives
Gandra Martins (que não tem nada de petista) sobre a condenação de
Dirceu? Há quem diga que o governo Dilma teria se empenhado na
aceleração do processo: interessaria a ela “liquidar’ agora esse
assunto, para não criar “embaraços” durante o período eleitoral. Não
descarto essa possibilidade (ainda mais num PT e num governo
absolutamente dominados pelo pragmatismo). Mas há outras hipóteses.
Por que Barbosa suspendeu a sessão de quinta-feira 14, em que o
colegiado do STF avaliaria a decisão do dia anterior? Ora, porque era
preciso que Barbosa faturasse sozinho as prisões.
Executadas em 2014, as prisões poderiam gerar algum alvoroço
eleitoral – sim. Mas talvez surgissem tarde demais, do ponto de vista de
uma oposição que precisa de um terceiro candidato para levar o pleito
presidencial ao segundo turno. Está claro, claríssimo, que Joaquim
Barbosa (e seus aliados midiáticos) contam com essa hipótese. Juizes têm
a prerrogativa de se filiar a partido político até seis meses antes da
eleição (abril/maio de 2014, portanto).
Se as prisões ocorressem em julho/agosto de 2014, haveria duas
possibilidades: ou Barbosa estaria nesse momento vinculado ao STF, sem
poder “faturar” as prisões. Ou já se teria lançado candidato em
abril/maio, perdendo a chance de usar politicamente o espetáculo
judicial/midiático. As prisões agora dão-lhe o tempo necessário para
faturar e avaliar politicamente o quadro.
Hoje, com Aécio e Eduardo Campos, a
oposição não conseguiria levar a eleição ao segundo turno. Ah, mas
Marina pelo PSB seria candidata forte, e poderia encampar o discurso
moralista (Aécio não pode, pelos telhados de vidro mineiros). Ok. Só
que há um risco em contar com isso: Eduardo controla o partido, e mesmo
com 10% ou 15% nas pesquisas (contra 20% ou 25% de Marina) pode forçar
uma candidatura, deixando Marina de fora. Eduardo não se importa em
ganhar ou perder agora; precisa é nacionalizar seu nome, pensando em
2018.
Por isso, a opção Joaquim Barbosa ganha força. Não tenham dúvida: ele
estará nas próximas pesquisas (especialmente no Datafolha) como opção…
Barbosa pode fazer o discurso do moralismo, e tem a imagem do
“homem negro que veio de baixo e venceu o preconceito”. Talvez tire
votos de Aécio, mas tira algo de Dilma também.
Não creio (e certamente os tucanos e seus aliados midiáticos também
não acreditam) que Barbosa tenha capacidade para ir a um segundo turno.
Mas se conquistar algo em torno de 10% ou 15% dos votos (Aécio deve
obter algo em torno de 20% ou 25%, e Eduardo cerca de 15%) , Barbosa
pode significar o empurrão de que os tucanos precisam para conseguir
um segundo turno.
Ah, mas Barbosa não tem estrutura nem palanques regionais. Não
precisa. Basta um partido médio ou pequeno (PTB ou PPS), que lhe garanta
dois a 3 minutos no horário eleitoral. O discurso - com um pé no
janismo e outro no autoritarismo a la Eneas – é o que basta nesse país
onde as identidades partidárias se dissolvem.
A operação Barbosa foi lançada nesse 15 de novembro. Pode não vingar,
a depender dos telhados de vidro miamescos, e das lembranças de
contextos familiares tumultuados e algo violentos no passado. Mas o juiz
que condena sem provas ficará no banco de reservas – para atender aos
apelos de uma classe média sedenta por superheróis do falso moralismo.
Pode-se dar ao luxo de esperar. A depender das pesquisas, sobe mais o
tom ali por abril ou maio. E aí sim vem – oficialmente – para a disputa
política, onde já ocupa lugar de destaque usando (e abusando) da
tribuna judicial.
Gazeta da Serra/ Carta Capital/ Rayssa Aline
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